sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Morre Khadafi, e acaba os 42 anos de ditadura militar na África


O ex-líder líbio Muamar Khadafi foi morto durante um ataque à sua cidade natal, Sirte, segundo o Conselho Nacional de Transição (CNT), que administra o país

Morte de Khadafi ocorreu após semanas de combate acirrado em Sirte

Nesta quinta-feira, 20, horas após o anúncio de que Khadafi teria sido capturado e levado a Misrata, o primeiro-ministro líbio Mahmoud Jibril confirmou sua morte para as agencias de noticiais do mundo.

Em uma coletiva de imprensa na capital, Trípoli, Jibril disse que é o momento de dar início a uma Líbia nova e unida.

Khadafi estava foragido desde agosto, quando rebeldes entraram na capital Trípoli e puseram fim ao seu regime de 42 anos - o mais longevo da África, e um dos mais longos do Oriente Médio.

O governo interino pretende anunciar a Líbia "liberada" antes de indicar quais serão os próximos passos em direção às eleições democráticas no país.

O primeiro-ministro disse que as forças do CNT ainda estão em busca de Saif al-Islam, o filho mais conhecido do coronel Khadafi, que deixou Sirte em um comboio antes da tomada da cidade.

Confirmação - "Nós esperamos por esse momento durante muito tempo. Muamar Khadafi foi morto", disse Mahmoud Jibril em uma coletiva de imprensa oficial, após um dia de relatos contraditórios e rumores.

Líderes de diversos países comemoraram a notícia, pedindo que o CNT mantenha sua promessa de realizar reformas no país.

O primeiro-ministro britânico David Cameron, que teve um papel de liderança na intervenção da Otan na Líbia, disse que este é "um dia para lembrar de todas as vítimas do coronel Khadafi".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que é um momento "histórico", mas alertou que "o caminho à frente da Líbia e de seu povo será difícil e cheio de desafios".

A morte de Khadafi ocorreu após semanas de combate acirrado em Sirte - um dos últimos bastiões de resistência na Líbia.

A Líbia é o terceiro país árabe, após Tunísia e Egito, a ter seu regime derrubado durante a onda de levantes conhecida como Primavera Árabe. O Tribunal Penal Internacional queria julgar o líder líbio deposto por acusações de crimes contra a humanidade.

Imagens - Há poucos detalhes da operação que teria resultado na morte de Khadafi. A Otan (aliança militar ocidental) afirmou que bombardeou dois veículos com forças leais ao líder deposto na manhã desta quinta-feira, perto de Sirte, mas não ficou claro se o bombardeio matou o coronel.

Chegaram a circular informações de que Khadafi teria sido capturado com vida. Logo em seguida, entretanto, a TV árabe Al-Jazeera exibiu imagens do que dizia ser o corpo de Khadafi.

Outro vídeo, com imagens granuladas, que circulava entre combatentes do CNT, mostrava o que seria o cadáver de Khadafi.

As imagens mostram vários combatentes aparecem comemorando, com gritos de júbilo, ao redor de um corpo vestido com uma roupa cáqui - semelhante a vestes usadas pelo ex-líder líbio. O cadáver tem o rosto manchado de sangue, e uma aparente ferida de bala do lado da cabeça.

Um combatente do CNT disse à BBC que encontrou Khadafi "escondido em um buraco em Sirte", e que ele teria implorado para não ser morto a tiros. O combatente mostrou aos jornalistas da BBC uma pistola dourada, que segundo ele teria sido tomada de Khadafi.

Canais de TV árabes também mostraram imagens de tropas cercando duas grandes tubulações, onde, segundo repórteres, Khadafi teria sido encontrado.

Entenda o caso:

• A revolta teve início no dia 15 de fevereiro, quando 2.000 pessoas organizaram um protesto em Bengasi, cidade que viria a se tornar reduto da oposição.

• No dia 27 de março, a Otan passa a controlar as operações no país, servindo de apoio às tropas insurgentes no confronto com as forças de segurança do ditador, que está no poder há 42 anos.

• Após conquistar outras cidades estratégicas, de leste a oeste do país, os rebeldes conseguem tomar Trípoli, em 21 de agosto, e, dois dias depois, festejam a invasão ao quartel-general de Kadafi.

• A caçada pelo coronel continuava intensa. Logo após ele divulgar uma mensagem em que diz que resistirá 'até a vitória ou a morte', os rebeldes ofereceram uma recompensa para quem o capturar - vivo ou morto.

Excêntrico - O avanço rebelde sobre a capital da Líbia, Trípoli, e sobre a cidade natal do coronel Muamar Khadafi, Sirte, pôs um fim definitivo ao governo do líder que permaneceu mais tempo no poder tanto na África quanto no mundo árabe.

Khadafi, de 68 anos, estava no comando da Líbia desde que depôs o rei Idris 1º, em 1969, em um golpe de estado sem derramamento de sangue, quando tinha 27 anos.

Conhecido por seu estilo extravagante de se vestir e pelas guarda-costas do sexo feminino, o líder líbio também é tido como um político habilidoso, que conseguiu tirar seu país do isolamento diplomático.

Em 2003 – depois de passar duas décadas sendo visto como país pária – a Líbia assumiu responsabilidade pelo atentado contra um voo da PanAm sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988, abrindo caminho para que a ONU suspendesse suas sanções contra o país.

Meses depois, o regime de Khadafi abandonou os esforços para desenvolver armas de destruição em massa, o que também facilitou a aproximação com o Ocidente.

Por causa das duas medidas, Khadafi deixou o isolamento e passou a ser aceito pela comunidade internacional, ainda que com ressalvas.

"Ele é único em seu discurso, em seu comportamento, em suas práticas e em sua estratégia", disse à BBC o analista de política líbia Saad Djebbar. "Mas é um politico astuto, e um sobrevivente político."

Raízes beduínas - Khadafi nasceu no deserto líbio, perto de Sirte, em 1942. Em sua juventude, ele admirava o líder egípcio e nacionalista árabe Gamal Abdel Nasser.

Ele começou a fazer planos para derrubar a monarquia líbia durante seus estudos militares, e recebeu treinamento militar na Grã-Bretanha antes de retornar à cidade líbia de Benghazi, onde deu início ao golpe que o levaria ao poder, em 1º de setembro de 1969.

Em seu Livro Verde, lançado nos anos 1970, Khadafi expôs sua filosofia política, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo.

Em 1977, ele criou o conceito de "Jamahiriya" ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através de milhares de "comitês populares".

Khadafi gostava de prezar tradições locais em público. Quando visitava outros países, acampava em uma luxuosa tenda beduína, típica dos povos de sua região.

Durante as viagens, o coronel era protegido por guarda-costas mulheres - que dizia serem menos dispersivas do que os homens.

O coronel também recebe políticos e personalidades que visitam o país em uma tenda beduína. Durante os encontros, ele é conhecido por se proteger das moscas com um artefato feito de crina de cavalo ou com um leque feito de uma folha de palmeira.

'Cachorro louco' - O ex-presidente americano Ronald Reagan chamou o líder líbio de "cachorro louco" e, em 1986, autorizou um ataque aéreo a Trípoli e a Benghazi em resposta a um ataque a bomba contra uma discoteca em Berlim Ocidental - segundo os Estados Unidos, o atentado, que matou dois militares americanos e uma mulher turca, teria sido realizado por agentes líbios.

Os bombardeios americanos mataram 45 soldados e funcionários públicos e 15 civis. Entre estes estava uma filha adotiva de Khadafi.

Nos anos 1990, após ter seus esforços para unir o Mundo Árabe rejeitados, o líder líbio se voltou para a África, propondo a criação de um país-federação no continente, nos moldes dos Estados Unidos.

Para promover a ideia, ele passou a se vestir usando roupas que carregavam emblemas do continente ou retratos de líderes africanos.

Mas no fim da década, com a Líbia em dificuldades por causa das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, Khadafi acabou assumindo a autoria do atentado de Lockerbie e de outros atentados, para lentamente restabelecer o diálogo do país com os Estados Unidos.

"Não haverá mais guerras, ataques ou atos de terrorismo", disse o coronel, ao celebrar 39 anos no poder.

Desafios domésticos - Antes de ser derrubado por uma revolta iniciada no bojo da chamada Primavera Árabe, o coronel se apresentava como guia espiritual da nação, supervisionando a implementação do que dizia ser uma versão local de democracia direta.

Na prática, segundo os críticos, Khadafi mantinha controle absoluto e autoritário da Líbia. Dissidências ou críticas eram duramente reprimidas e a mídia do país sempre foi rigorosamente controlada pelo governo.

A Líbia tinha uma lei que proibia qualquer atividade de grupos baseadas em ideologias políticas que eram opostas à visão de Khadafi.

Segundo a organização internacional Human Rights Watch, o regime prendeu centenas de pessoas por violarem a lei e sentenciou algumas à morte. Também há relatos de tortura e desaparecimentos. (Com informações da BBC/Veja)

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